domingo, 28 de junho de 2015

A teologia liberal

                                                  



                                            A Teologia Liberal 







A libertação da teologia liberal não só é necessária como também é vital para a Igreja brasileira, ameaçada pelo secularismo e pelo liberalismo teológico corrosivo.
Do jeito que as coisas andam em nossos dias, precisamos urgentemente nos libertar da teologia liberal. É espantoso o crescente número de livros (inclusive publicados por editoras evangélicas) que esboçam os ensinamentos deste tipo de teologia ou tecem comentários favoráveis. Embora esta teologia tenha nascido com os protestantes, hoje, porém, seus maiores expoentes são os católicos romanos. Na católica encontramos grande quantidade de obras defendendo e/ou propagando a teologia liberal. E não é só isso. A forma com que alguns seminários e igrejas vêm se comprometendo com os ensinos desta teologia também é de impressionar.
Apesar das motivações iniciais dos modernistas, suas idéias, no entanto, representaram grave ameaça à ortodoxia, fato já comprovado pela história. O movimento gerou ensinamentos que dividiram quase todas as denominações históricas na primeira metade deste século. Ao menosprezar a importância da doutrina, o modernismo abriu a porta para o liberalismo teológico, o relativismo moral e a incredulidade descarada. Atualmente, a maioria dos evangélicos tende a compreender a palavra “modernismo” como uma negação completa da fé. Por isso, com facilidade esquecemos que o objetivo dos primeiros modernistas era apenas tornar a igreja mais “moderna”, mais unificada, mais relevante e mais aceitável em uma era caracterizada pela modernidade.
Mas o que caracterizaria um teólogo liberal? O verbete sobre o “protestantismo liberal” do Novo Dicionário de Teologia, editado por Alan Richardson e John Bowden, nos traz uma boa noção do termo. Vejamos três destaques de elementos do liberalismo teológico:
1- É receptivo à ciência, às artes e estudos humanos contemporâneos. Procura a verdade onde quer que se encontre. Para o liberalismo não existe a descontinuidade entre a verdade humana e a verdade do cristianismo, a disjunção entre a razão e a revelação. A verdade deve ser encontrada na experiência guiada mais pela razão do que pela tradição e autoridade e mostra mais abertura ao ecumenismo;
2- Tem-se mostrado simpatia para com o uso dos cânones da historiografia para interpretar os textos sagrados. A Bíblia é considerada documento humano, cuja validade principal está em registrar a experiência de pessoas abertas para a presença de Deus. Sua tarefa contínua é interpretar a Bíblia, à luz de uma cosmovisão contemporânea e da melhor pesquisa histórica, e, ao mesmo tempo, interpretar a sociedade, à luz da narrativa evangélica;
3 – Os liberais ressaltam as implicações éticas do cristianismo. O cristianismo não é um dogma a ser crido, mas um modo de viver e conviver, um caminho de vida. Mostraram-se inclinados a ter uma visão otimista da mudança e acreditar que o mal é mais uma ignorância. Por ter vários atributos até divergentes, o liberal causa alergia para uns e para outros é motivo de certa satisfação, por ser considerado portador de uma mente aberta para o diálogo com posições contrárias.
As grandes batalhas causadas pelo liberalismo foram travadas dentro das grandes denominações históricas. Muitos pastores que haviam saído dos EUA no intuito de se pós-graduarem nas grandes universidades teológicas da Europa, especificamente na Alemanha, em que a teologia liberal abraçava as teorias destrutivas da Alta Crítica produzida pelo racionalismo humanista, acabaram retornando para os EUA completamente descrentes nos fundamentos do cristianismo histórico. Os liberais, devido à tolerância inicial dos fiéis para com a sã doutrina, tiveram tempo de fermentar as grandes denominações e conseguiram tomar para si os grandes seminários, rádios e igrejas, de modo que não sobrou outra alternativa para grande parte dos fundamentalistas senão sair dessas denominações e se organizar em novas denominações. Daí surgiram os Batistas Regulares (que formaram a Associação Geral das Igrejas Batistas Regulares, em 1932), os Batistas Independentes, as Igrejas Bíblicas, as Igrejas Cristãs Evangélicas, a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (em 1936, que mudou seu nome para Igreja Presbiteriana Ortodoxa), a Igreja Presbiteriana Bíblica (em 1938), a Associação Batista Conservadora dos Estados Unidos (em 1947), as Igrejas Fundamentalistas Independentes dos Estados Unidos (em 1930) e muitas outras denominações que existem ainda hoje.
Podemos dizer que algumas das características do cristianismo ortodoxo se baseiam nos seguintes pontos:
• Manter fidelidade incondicional à Bíblia, que é inerrante, infalível e verbalmente inspirada;
• Acreditar que o que a Bíblia diz é verdade (verdade absoluta, ou seja, verdade sempre, em todo lugar e momento);
• Julgar todas as coisas pela Bíblia e ser julgado unicamente por ela;
• Afirmar as verdades fundamentais da fé cristã histórica: a doutrina da Trindade, a encarnação, o nascimento virginal, o sacrifício expiatório, a ressurreição física, a ascensão ao céu, a segunda vinda do Senhor Jesus Cristo, o novo nascimento mediante a regeneração do Espírito Santo, a ressurreição dos santos para a vida eterna, a ressurreição dos ímpios para o juízo final e a morte eterna e a comunhão dos santos, que são o Corpo de Cristo.
• Ser fiel à fé e procurar anunciá-la a toda criatura;
• Denunciar e se separar de toda negativa eclesiástica dessa fé, de todo compromisso com o erro e de todo tipo de apostasia;
• Batalhar firmemente pela fé que foi concedida aos santos.
Contudo, o liberalismo, em sua apostasia, nega a validade de quase todos os fundamentos da fé, como, por exemplo, a inerrância das Escrituras, a divindade de Cristo, a necessidade da morte expiatória de Cristo, seu nascimento virginal e sua ressurreição. Chegam até mesmo a negar que existiu realmente o Jesus narrado nas Escrituras. A doutrina escatológica liberal se baseia no universalismo (todas as pessoas serão salvas um dia e Deus vai dar um jeito até na situação do diabo) e, conseqüentemente, para eles, não existe inferno e muito menos o conceito de pecado. O liberalismo é um sistema racionalista que só aceita o que pode ser “provado” cientificamente pelos próprios conhecimentos falíveis, fragmentados e limitados do homem.
Os primeiros estudiosos que aplicaram o método histórico-crítico sem critérios ao estudo das Escrituras negavam que a Bíblia fosse, de fato, a Palavra de Deus inspirada. Segundo eles, a Bíblia continha apenas a Palavra de Deus.
O liberalismo teológico tem procurado embutir no cristianismo uma roupagem moderna: pegam as últimas idéias seculares e, sorrateiramente, espalham no mundo cristão. J.G. Machem, em seu livro Cristianismo e liberalismo, trata deste assunto com maestria. Na contracapa, podemos ver uma pequena comparação entre o cristianismo e o liberalismo: “O liberalismo representa a fé na humanidade, ao passo que o cristianismo representa a fé em Deus. O primeiro não é sobrenatural, o último é absolutamente sobrenatural. Um é a religião da moralidade pessoal e social, o outro, contudo, é a religião do socorro divino. Enquanto um tropeça sobre a ‘rocha de escândalo’, o outro defende a singularidade de Jesus Cristo. Um é inimigo da doutrina, ao passo que o outro se gloria nas verdades imutáveis que repousam no próprio caráter e autoridade de Deus”.
Muitos, por buscarem aceitação teológica acadêmica, têm-se comprometido fatalmente, pois, na prática, os liberais tentam remover do cristianismo todas as coisas que não podem ser autenticadas pela ciência. Sempre que a ciência contradiz a Bíblia, a ciência é preferida e a Bíblia, desacreditada.
Hoje, a animosidade que demonstram para com a Bíblia tem caracterizado aqueles que crêem que ela é literalmente a Palavra de Deus e inerrante (sem erros em seus originais) como “fundamentalistas”.1 Ora, podemos por acaso negociar o inegociável?
Os liberais acusam os evangélicos de transformar a Bíblia em um “papa de papel”, ou seja, em um ídolo. Com isso, culpam os evangélicos de bibliolatria.2 Estamos cientes de que tem havido alguns exageros por parte de alguns fundamentalistas evangélicos, mas a verdade é que os “eruditos” liberais têm-se mostrado tão exagerados quanto muitos do que eles denominam de fundamentalistas. Teoricamente falando, a maioria dos liberais acredita em Deus, supondo que Ele pode intervir na história da humanidade, porém, na prática, e com freqüência, mostram-se muito mais deístas.3 Normalmente, os liberais também favorecem o “relativismo”, ou seja, difundem que no campo da verdade não há absolutos. Segundo este raciocínio, se não há verdades absolutas, então, as verdades da Bíblia (que são absolutas) são relativas, logo, não podem ser a Palavra de Deus. Tendo rejeitado a Bíblia como a infalível Palavra de Deus e aceitado a idéia de que tudo está fluindo, o teólogo liberal afirma que não é segura qualquer idéia permanente a respeito de Deus e da verdade teológica.
Levando o pensamento existencialista às últimas conseqüências, conclui-se que: se quisermos que a Bíblia tenha algum valor para a modernidade e fale ao homem moderno, temos de criar uma teologia para cada cultura, para cada contexto, onde nenhum ensino é absoluto, mas relativo, variando conforme o contexto sociocultural. Obviamente, tal pensamento possui fundamento em alguns pontos, mas daí ao radicalismo de pregar que nada é absoluto, isso já extrapola e fere diversos princípios bíblicos.
Raízes 
O liberalismo teológico começou a florescer de forma sistematizada devido à influência do racionalismo de Descartes e Spinoza, nos séculos 17 e 18, que redundou no iluminismo.4 O liberalismo opunha-se ao racionalismo extremado do iluminismo.
Na verdade, quando a igreja começa a flertar com o liberalismo e se render aos seus interesses, ela perde sua autoridade e deixa de ser embaixadora de Deus. A história tem provado que onde o liberalismo teológico chega a Igreja morre. Este é um aviso solene que deve estar sempre trombeteando em nossos ouvidos.
A baixa crítica 
Conforme Gleason L. Archer Jr, “a ‘baixa crítica’ ou crítica textual se preocupa com a tarefa de restaurar o texto original na base das cópias imperfeitas que chegaram até nós. Procura selecionar as evidências oferecidas pelas variações, ou leituras diferentes, quando há falta de acordo entre os manuscritos sobreviventes, e pela aplicação de um método científico chegar àquilo que era mais provavelmente a expressão exata empregada pelo autor original”.5
A alta crítica 
J. G. Eichhorn, um racionalista germânico dos fins do século 18, foi o primeiro a aplicar o termo “alta crítica” ao estudo da Bíblia. E, por esse motivo, ele tem sido chamado de “o pai da crítica do Antigo Testamento”. Segundo R. N. Champlin, “a ‘alta crítica’ aponta para o exame crítico da Bíblia, envolvendo qualquer coisa que vá além do próprio texto bíblico, isto é, questões que digam respeito à autoria, à data, à forma de composição, à integridade, à proveniência, às idéias envolvidas, às doutrinas ensinadas, etc. A alta crítica pode ser positiva ou negativa em sua abordagem, ou pode misturar ambos os pontos de vista”.6 Mas o que temos visto na prática é que esta forma de crítica tem negado as doutrinas centrais da fé cristã, em nome da ciência, da modernidade e da razão. O que fica evidente é que alguns críticos partem com o intuito de desacreditar a Bíblia, devido a alguns pressupostos naturalistas, chegando ao cúmulo de dizer que a Igreja inventou Jesus.
Conforme Norman Geisler “a alta crítica pode ser dividida em negativa (destrutiva) e positiva (construtiva). A crítica negativa, como o próprio nome sugere, nega a autenticidade de grande parte dos registros bíblicos. Essa abordagem, em geral, emprega uma pressuposição anti-sobrenatural”.7
Métodos aplicados a qualquer tipo de literatura passaram a ser aplicados também à Bíblia, com grandes doses de ceticismo (no que diz respeito à validade histórica e à integridade de seus livros), com invenções de entusiastas que tinham pouca base nos fatos históricos. Assim, onde vemos nas narrativas da Bíblia fatos sobrenaturais esta teologia lhes confere interpretações naturais, retirando da Palavra de Deus todas as intervenções miraculosas. Claramente é impróprio, ou mesmo blasfematório, nos colocarmos como juízes sobre a Bíblia.
Penosamente, a “alta crítica” tem empregado uma metodologia faltosa, caindo em alguns pressupostos questionáveis. E, devido aos seus resultados, ultimamente vem sendo descrita como “alta crítica destrutiva”. (para melhor compreensão, veja o quadro comparativo acima)8
C. S. Lewis, sem dúvida o apologista cristão mais influente do século 20, em seu artigo “A teologia moderna e a crítica da Bíblia”, tece os seguintes comentários:
“Em primeiro lugar, o que quer que esses homens possam ser como críticos da Bíblia, desconfio deles como críticos9 […] Se tal homem chega e diz que alguma coisa, em um dos evangelhos, é lendária ou romântica, então quero saber quantas lendas e romances ele já leu, o quanto está desenvolvido o seu gosto literário para poder detectar lendas e romances, e não quantos anos ele já passou estudando aquele evangelho1 0 […] os críticos falam apenas como homens; homens obviamente influenciados pelo espírito da época em que cresceram, espírito esse talvez insuficientemente crítico quanto às suas próprias conclusões1 1 […] Os firmes resultados da erudição moderna, na sua tentativa de descobrir por quais motivos algum livro antigo foi escrito, segundo podemos facilmente concluir, só são ‘firmes’ porque as pessoas que sabiam dos fatos já faleceram, e não podem desdizer o que os críticos asseguram com tanta autoconfiança”.1 2
Prove e veja 
Na Universidade de Chicago, Divinity School, em cada ano eles têm o que chamam de “Dia Batista”, quando cada aluno deve trazer um prato de comida e ocorre um piquenique no gramado. Nesse dia, a escola sempre convida uma das grandes mentes da literatura no meio educacional teológico para palestrar sobre algum assunto relacionado ao ambiente acadêmico.
Certo ano, o convidado foi Paul Tillich,1 3 que discursou, durante duas horas e meia, no intuito de provar que a ressurreição de Jesus era falsa. Questionou estudiosos e livros e concluiu que, a partir do momento que não existiam provas históricas da ressurreição, a tradição religiosa da igreja caía por terra, porque estava baseada num relacionamento com um Jesus que, de fato, segundo ele, nunca havia ressurgido literalmente dos mortos.
Ao concluir sua teoria, Tillich perguntou à platéia se havia alguma pergunta, algum questionamento. Depois de uns trinta segundos, um senhor negro, de cabelos brancos, se levantou no fundo do auditório: “Dr Tillich, eu tenho uma pergunta, ele disse, enquanto todos os olhos se voltavam para ele. Colocou a mão na sua sacola, pegou uma maçã e começou a comer… Dr Tillich… crunch, munch… minha pergunta é muito simples… crunch, munch… Eu nunca li tantos livros como o senhor leu… crunch, munch… e também não posso recitar as Escrituras no original grego… crunch, munch… Não sei nada sobre Niebuhr e Heidegger… crunch, munch… [e ele acabou de comer a maçã] Mas tudo o que eu gostaria de saber é: Essa maçã que eu acabei de comer… estava doce ou azeda?
“Tillich parou por um momento e respondeu com todo o estilo de um estudioso: ‘Eu não tenho possibilidades de responder essa questão, pois não provei a sua maçã’.
“O senhor de cabelos brancos jogou o que restou da maçã dentro do saco de papel, olhou para o Dr. Tillich e disse calmamente: ‘O senhor também nunca provou do meu Jesus, e como ousa afirmar o que está dizendo?”. Nesse momento, mais de mil estudantes que estavam participando do evento não puderam se conter. O auditório se ergueu em aplausos. Dr. Tillich agradeceu a platéia e, rapidamente, deixou o palco”.
É essa a diferença! 
É fundamental considerar que tudo o que engloba a fé genuinamente cristã está amparado em um relacionamento experimental (prático) com Deus. Sem esse pré-requisito, ninguém pode seriamente afirmar ser um cristão. Seria muito bom se os críticos se atrevessem a experimentar este relacionamento antes de tecerem suas conjeturas. Se assim fosse, certamente se lhes abriria um novo horizonte para suas proposições e, quem sabe, entenderiam que o sobrenatural não é uma brecha da lei natural, mas, sim, uma revelação da lei espiritual.
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Notas
1 O fundamentalismo foi um movimento surgido nos Estados Unidos durante e imediatamente após a 1ª Guerra Mundial, a fim de reafirmar o cristianismo protestante ortodoxo e defendê-lo contra os desafios da teologia liberal, da alta crítica alemã, do darwinismo e de outros pensamentos considerados danosos para o cristianismo.
2 Adoração à Bíblia.
3 Segundo a comparação clássica entre Deus e o fabricante de um relógio, Deus, no princípio, deu corda ao relógio do mundo de uma vez para sempre, de modo que ele agora continua com a história mundial sem a necessidade de envolvimento da parte de Deus.
4 O Iluminismo enfatizava a razão e a independência e promovia uma desconfiança acentuada da autoridade. A verdade deveria ser obtida por meio da razão, observação e experiência. O movimento foi dominado pelo anti-sobrenaturalismo e pelo pluralismo religioso.
5 ARCHER, Gleason L. Merece confiança o Antigo Testamento? Edições Vida Nova, p.54.
6 CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol 1. Candeia, p. 122.
7 GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apologética. Editora Vida, p.113.
8 Ibid. p. 116.
9 MCDOWELL, Josh. Evidência que exige um veredicto. Vol 2. Editora Candeia, p.522.
10 Ibid., p.526.
11 Ibid., p.526.
12 Ibid., p.528.
13 Paul Tillich nasceu em 20 de agosto de 1886, em Starzeddel, na Prússia Oriental, perto de Guben. Foi um teólogo-filósofo e representante do existencialismo religioso.
* matéria colhida na revista Defesa da Fé.
por Danilo Raphael 



DEUS DESTINO DO HOMEM


                              
                            DEUS E DESTINO DO HOMEM

Eternidade. O que significa essa palavra e por que motivo alguém deveria aceitar esse conceito, principalmente no que se refere ao destino do homem? Sabemos por experiência própria, e através da observação da natureza, que as coisas materiais se deterioram. A Segunda Lei da Termodinâmica nos diz que todo o universo está se desgastando, como um relógio que está perdendo a corda, e não vai durar para sempre. Portanto, é óbvio que ele teve um princípio, exatamente como diz a Bíblia.
Sabemos que o Sol não esteve sempre no céu, ou já teria consumido completamente todo o seu combustível. O mesmo vale para todas as outras estrelas. Fica claro, então, que houve uma época em que este universo não existia; nada existia, nem mesmo a energia da qual o universo parece ser constituído.
Por que o universo não poderia ter sua origem em alguma misteriosa energia cósmica que sempre existiu, sem ter tido um começo? Por causa da Segunda Lei da Termodinâmica, a lei da entropia. A energia não poderia ter existido desde sempre, desenvolvendo-se rumo a um “Big Bang” (“Grande Explosão”) que teria criado as estrelas e os planetas. Ela teria sofrido entropia antes de “explodir” – e explosões não criam ordem. Se o universo tivesse existido para sempre, agora tudo deveria ter a mesma temperatura: o calor sempre é transmitido para algo mais frio.
Além disso, a energia não tem nem intelecto, nem qualidades pessoais para fazer surgir a incrível complexidade da vida e para criar seres com personalidade própria. Inteligência e personalidade são imateriais e não poderiam ter sido geradas posteriormente a partir da energia ou da matéria e, portanto, devem tê-la precedido.
Não alguma força, mas um Ser pessoal de inteligência infinita e sem começo deve ter criado o universo. Não se trata da “causa original” da filosofia ou dos “deuses” do paganismo, que mudam, seguem seus caprichos e competem entre si. O Criador somente pode ser o “Eu Sou” que revelou a Si mesmo a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3.14), o Auto-Existente sem começo e sem fim, de quem a Bíblia diz: “de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmo 90.2).
É óbvio que o intelecto e a personalidade são inteiramente diferentes da matéria e não são a substância constitutiva dela. Portanto, o universo não faz parte de Deus e nem é uma extensão dEle. Isso significa que tudo que podemos ver – seja a olho nu, com um telescópio ou através de um microscópio eletrônico – veio do nada. Isso é impossível, mas somos levados a essa conclusão pela própria lógica. Contudo, imaginar que a vida e a inteligência brotaram espontaneamente, por sua própria iniciativa e poder, do espaço morto e vazio, seria algo totalmente irracional. Portanto, alguma coisa diferente do universo e de seus componentes deve ter existido sempre.
Não alguma coisa, mas Alguém, sem início nem fim. Por que Alguém? Porque o universo, desde a estrutura atômica até uma célula humana, exibe uma ordem e uma complexidade tão extraordinárias que só uma inteligência infinita poderia ter planejado e executado – e nenhuma coisa, ou força, ou “poder superior” tem a capacidade de pensar, planejar e organizar. Além disso, a espécie humana é composta de personalidades individuais que têm a capacidade de conceber ideias conceituais, expressá-las em palavras ou desenhos e transformá-las em intrincadas estruturas que não existem na natureza. Os seres humanos também têm a capacidade de sentir amor e ódio, alegria e tristeza, perceber a justiça e a injustiça, e raciocinar sobre sua própria existência e destino.
Só uma Pessoa infinita poderia criar pessoas. Portanto, as evidências e a lógica nos levam a concluir que este universo só poderia ter começado a existir sob o comando de Alguém que não teve começo; Alguém que sempre existiu e que possui o gênio e o poder infinitos para trazer à existência todas as coisas e todos os seres, a partir do nada. Certamente não foi pela superstição corrente no Egito em seus dias, mas por revelação divina que Moisés declarou: “Antes que […] se formassem a terra e o mundo […] de eternidade a eternidade, tu és Deus […] mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi, e como a vigília da noite” (Salmo 90.2,4).
Este não é o deus do paganismo, das religiões indígenas, ou de qualquer uma das grandes religiões do mundo, tais como o budismo (pouquíssimos budistas acreditam em Deus), o hinduísmo, o islamismo e muitas outras, mas sim o Deus da Bíblia que, do modo como é descrito nas Escrituras, qualifica-se de forma única e singular para ser o Criador de todas as coisas. Não consideramos o cristianismo como sendo uma das religiões do mundo, mas sim como algo inteiramente distinto de todas elas.
A Bíblia jamais tenta provar a existência de Deus. Ela simplesmente a toma como um fato. Ela também não tenta explicar o que está além da nossa capacidade de compreensão. A Escritura simplesmente declara, no primeiro versículo: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1.1). Em gratidão ao Deus que o criou, o rei Davi afirmou: “Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obrassão admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem” (Salmo 139.14).
A ciência não foi, nem jamais será capaz de verificar, refutar ou aperfeiçoar essa declaração. Não podemos compreendê-la, mas devemos aceitá-la pela fé. Aqui temos um exemplo do que é a fé: um passo que nada tem de irracional, mas sim uma trajetória racional que pondera as evidências e segue a lógica até o ponto em que a razão consegue alcançar, e depois dá mais um passo além da razão, mas sempre na direção e no sentido que as evidências e a razão indicaram.
A Bíblia expressa esse princípio da seguinte forma: “Pela fé entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hebreus 11.3). Alguns autores já disseram que essa foi a primeira formulação da teoria atômica. Não, isso não é teoria; é a afirmação de um fato nas palavras do próprio Deus. No entanto, temos de ter o cuidado de não ler nesse versículo mais do que ele realmente diz. Ele não diz que tudo foi formado de algo invisível. Ele não diz, igualmente, que o universo foi formado de alguma coisa.
O que Hebreus 11.3 nos diz é que o universo visível não foi feito de algo visível, pois isso implicaria dizer que alguma coisa visível sempre existiu e que o universo foi simplesmente fabricado com os materiais disponíveis. Mas ele não poderia ter sido criado dessa forma, porque não existe nada visível que seja eterno. Na verdade, o universo foi criado pela Palavra de Deus: “Disse Deus: Haja […]” (Gênesis 1.3,6,9, e outros), e tudo que é visível passou a existir em obediência à Sua Palavra. Essa mesma Palavra que criou e sustenta todas as coisas falará novamente, e tudo que é visível na velha criação se dissolverá e tornará ao nada: “Ora, os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios” (2 Pedro 3.7).
Muito antes da formulação da Segunda Lei da Termodinâmica, Jesus afirmou muito claramente: “Passará o céu e a terra” (Mateus 24.35). Entretanto, o universo não está destinado, simplesmente, a se desgastar devido à passagem de incontáveis bilhões de anos. Sob a inspiração do Espírito Santo, Pedro explicou que toda a vida existente na face da terra será sumariamente eliminada e o universo inteiro será destruído por Deus como castigo pela rebelião do homem e de Satanás. Em seu lugar, será criado um novo universo: “[No] Dia do Juízo […] os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas […] os céus, incendiados, serão desfeitos […] Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2 Pedro 3.7-13).
A palavra “céus” é usada de duas formas na Escritura: significando tudo o que há de físico no espaço dimensional exterior à terra, e referindo-se à habitação imaterial de Deus, que Jesus indicou quando disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (João 14.2). Um significado refere-se a algo visível e temporal, enquanto o outro fala de algo invisível e eterno. Este universo visível e temporário não é tudo o que existe. Há uma outra dimensão de existência que não é física nem visível – e que não se desgasta nem envelhece com a passagem do tempo, não pode ser destruída e jamais deixará de existir.


(Dave Hunt -http://www.chamada.com.br

O DEUS DE MILAGRES NOS DIAS DE HOJE TAMBÉM

                          




               Milagres: sinais de Deus ou enganação?


ARTIGO por Norman Geisler 












Se aceitamos Deus, devemos aceitar os milagres? No fundo, no fundo, você não tem certeza disso. Essa é a barganha. C. S. LEWIS

QUEM VENCEU?

Precisamos fazer uma pausa por um instante e reunir as peças do quebra-cabeça que encontramos até agora. Lembre-se: estamos procurando por unidade na diversidade. Estamos tentando juntar as peças da vida aparentemente diferentes em uma imagem coerente. Até aqui, nossa imagem coerente nos mostra que a verdade existe e que pode ser conhecida. Qualquer negação da verdade pressupõe a verdade, de modo que a existência da verdade é inevitável. Embora não possamos saber a maioria das verdades absolutas devido à limitação humana, podemos conhecer muitas verdades com um alto grau de certeza (i.e., “ainda que haja uma dúvida justificável”). Uma dessas verdades é a existência e a natureza de Deus. Com base nas linhas de evidências que revisamos — os argumentos cosmológico, teleológico e moral [1], podemos saber, ainda que haja uma dúvida justificável, que existe um Deus teísta com determinadas características.

Com base no argumento cosmo lógico, sabemos que Deus é:

1.    Aura-existente, atemporal, não espacial, imaterial (uma vez que ele I criou o tempo, o espaço e a matéria, então deve estar fora do tempo, do espaço e da matéria). Em outras palavras, ele não tem limites. Ou seja, ele é infinito.
1.    Inimaginavelmente poderoso, uma vez que ele criou todo o Universo do nada.
1.    Pessoal, uma vez que ele optou por converter um estado de nulidade em um Universo tempo-espaço-material (uma força impessoal não tem capacidade de tomar decisões).

Com base no argumento teleológico, sabemos que Deus é:

1.    Supremamente inteligente, uma vez que planejou a vida e o Universo com incrível complexidade e precisão.
2.    Determinado, uma vez que planejou as muitas formas de vida para viverem nesse ambiente específico e ordenado.

Com base no argumento moral, sabemos que Deus é:

Absolutamente puro no aspecto moral (ele é o padrão imutável de moralidade pelo qual todas as ações são medidas. Esse padrão inclui justiça e amor infinitos).

Teísmo é O termo adequado para descrever tal Deus. Aqui está a maravilhosa verdade sobre essas descobertas: o Deus teísta que descobrimos é compatível com o Deus da Bíblia, mas nós o descobrimos sem usar a Bíblia. Mostramos que, por meio de raciocínio, ciência e filosofia adequados, pode-se conhecer muitas coisas sobre o Deus da Bíblia. Na verdade, isso é o que a própria Bíblia diz (e.g. 5119; Rm 1.18-20; 2.14,15). Os teólogos chamam essa revelação de Deus de natural ou revelação geral (que é claramente vista independentemente de qualquer tipo de Escritura). A revelação das Escrituras é chamada de revelação especial.
Assim, sabemos por meio da revelação natural que o teísmo é verdadeiro.
Essa descoberta nos ajuda a ver não apenas como é a verdadeira tampa da caixa, mas o que ela não pode ser. Uma vez que o oposto de verdadeiro é falso (cap. 2), sabemos que qualquer visão de mundo não teísta deve ser falsa. Ou, colocando de outra maneira, entre as maiores religiões mundiais, somente uma das religiões teístas — judaísmo, cristianismo ou islamismo — pode ser verdadeira. Todas as outras principais religiões mundiais não podem ser verdadeiras, porque elas são ateístas.

Pode ser verdadeira (teísta)
Não pode ser verdadeira (não teísta)
1. Judaísmo
1. Hinduísmo (panteísta ou politeísta)
2. Cristianismo
2. Budismo (panteísta ou ateísta)
3. Islamismo
3. Nova Era (panteísta)
4. Humanismo secular (ateísta)
5. Mormonismo (politeísta)
6. Wicca (panteísta ou politeísta)
7. Taoísmo (panteísta ou ateísta)
8. Confucionismo (ateísta)
9. Xintoísmo (politeísta)
Tabela 8.1
Isso pode parecer uma declaração muito imponente — negar a verdade de tantas religiões mundiais nesse estágio. Mas, por meio de lógica simples usando a lei da não-contradição — religiões mutuamente excludentes não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Tão certo quanto jogadores de futebol são cortados da escalação de um jogo porque carecem de certas habilidades, certas religiões mundiais são cortadas da escalação como possíveis religiões verdadeiras porque carecem das qualificações necessárias.
Desse modo, por meio da lógica, se o teísmo é verdadeiro, então todos os não teísmos são falsos. Isso não significa que todo o ensinamento de uma religião não teísta é falso ou que não existe nada de bom nessas religiões — certamente existe verdade e bondade na maioria das religiões mundiais. Isso simplesmente quer dizer que, como uma maneira de se olhar para o mundo (i.e., uma visão de mundo), qualquer religião não teísta está construída sobre um fundamento falso. Embora alguns detalhes possam ser verdadeiros, o cerne de qualquer sistema religioso não teísta é falso. Eles são sistemas de erro, embora tenham alguma verdade.
Os hindus, por exemplo, corretamente ensinam a verdade de que você colhe aquilo que planta, embora a visão de mundo do hinduísmo — a de que “você” não existe realmente porque tudo é parte de uma realidade indistinguível chamada brahma — seja falsa. O humanismo secular afirma corretamente a realidade do mal, embora a visão de mundo humanista — que nega um padrão objetivo pelo qual possamos detectar o mal — seja falsa. Os mórmons ensinam corretamente que existem padrões morais aos quais devemos obedecer, embora a visão de mundo mórmon — segundo a qual existem muitos deuses — seja falsa. [2]
Este último ponto sobre o mormonismo levanta uma questão, a saber: por que a existência de um Deus teísta refuta o politeísmo? Ela refuta o politeísmo porque Deus é infinito e não pode haver mais de um Ser infinito. Para distinguir-se um ser de outro, eles devem diferir em algum aspecto. Se diferem de alguma maneira, então um tem falta de uma coisa que o outro possui. Se um ser carece de alguma coisa que o outro possui, então o ser que tem falta não é infinito, porque, por definição, um ser infinito não carece de nada. Desse modo, só é possível existir um único Ser infinito.
Alguém poderia argumentar que existem seres finitos (ou “deuses”) mais poderosos do que os seres humanos. De fato, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo ensinam a existência de anjos e demônios. Mas isso não é politeísmo, que nega que existe um Ser supremo, infinito e eterno a quem todas as criaturas devem sua existência e em relação a quem todas as criaturas são, por fim, responsáveis. Uma vez que o teísmo é verdadeiro, o politeísmo é tão falso quanto o ateísmo, o panteísmo e todas as outras visões de mundo não teístas.
Mas estamos divagando. A questão principal é que a tampa correta da caixa do Universo mostra um Deus teísta. Isso significa que apenas uma das três maiores religiões mundiais vence no padrão da verdade: judaísmo, cristianismo ou islamismo. Logicamente, é fato que todas essas religiões mundiais teístas não podem ser verdadeiras, uma vez que elas fazem declarações mutuamente excludentes. Além do mais, é possível que nenhuma dessas três religiões mundiais seja completamente verdadeira. Talvez possuam o teísmo e pouca coisa mais. Isso é possível. Contudo, uma vez que sabemos, mesmo com uma pequena parcela de dúvida justificável, que Deus existe e que possui as características que enumeramos anteriormente — características que incluem projeto, propósito, justiça e amor -, então deveríamos esperar que ele revelasse mais de si mesmo e de seus propósitos para a nossa vida. Isso exigiria que ele se comunicasse conosco. É provável que uma das três maiores religiões teístas contenha essa comunicação.

COMO DEUS SE COMUNICA?

Como vimos, Deus já se comunicou conosco por meio da criação e da consciência (revelação natural ou geral), o que nos dá idéias básicas sobre sua existência, seu poder e suas exigências morais. Mas como Deus poderia revelar a si mesmo de modo que pudéssemos ter uma compreensão mais detalhada de qual seja o seu propósito último para nós?
Por que não poderia ele aparecer a cada um de nós? Ele poderia, mas isso interferiria em nosso livre-arbítrio. C. S. Lewis tem alguns insights maravilhosos sobre esse assunto. Em seu livro The Screwtape Letters, Coisa-ruim, o demônio velho, escreve o seguinte a seu discípulo Pé-de-cabra:
Você deve ter pensado por que o Inimigo [Deus] não faz mais uso de seu poder para ser sensivelmente presente às almas humanas em qualquer grau e em qualquer momento que ele escolha. Mas você vê agora que o Irresistível e o Indiscutível são as duas armas que a própria natureza de seus planos o impede de usá-las. Simplesmente sobrepor-se à vontade humana (o que sua presença certamente faria ainda que em seu grau mais ínfimo seria inútil para ele. Ele não pode arrebatar. Pode apenas cortejar.[3]
Se Deus não escolheu a poderosa opção de interagir face a face com todas as pessoas do planeta, então talvez tenha escolhido um método mais sutil de comunicação (de fato, a Bíblia diz que Deus nem sempre é tão aberto quanto nós gostaríamos que fosse [Is 45.15]). Talvez Deus tenha se manifestado de alguma maneira a algum grupo seleto de pessoas nesses tantos séculos e o tenha inspirado a escrever aquilo que testemunhou e ouviu dele. A linguagem escrita é um meio preciso de comunicação que pode facilmente ser duplicado e passado adiante, às gerações seguintes, mas ele também pode ser facilmente ignorado por aqueles que, por livre decisão, optam por não quererem ser incomodados por Deus.
Desse modo, um livro funcionaria como um meio de comunicação válido, mas não impositivo da parte de Deus. Mas qual livro? Deus se comunicou por meio do livro dos judeus, dos cristãos ou dos muçulmanos? Como podemos dizer qual livro — se é que existe algum — é realmente uma mensagem vinda de Deus?

O SELO DO REI

Nos dias anteriores à comunicação em massa — quando todas as mensagens endereçadas a locais distantes eram entregues em mão -, um rei colocaria seu selo sobre essa mensagem. Esse selo era um sinal ao destinatário de que a mensagem era autêntica — ela realmente viera do rei, e não de alguma outra pessoa fazendo-se passar pelo rei. É claro que para fazer esse sistema funcionar, o selo precisava ser incomum ou singular, facilmente reconhecível, e precisava ter alguma coisa que só o rei possuísse.
Deus poderia usar um sistema parecido para autenticar suas mensagens falando de maneira específica, poderia usar os milagres. Os milagres são incomuns e singulares, facilmente reconhecíveis e somente Deus pode realizá-los. Até mesmo os céticos, ao exigirem um sinal de Deus, estão implicitamente admitindo que os milagres provariam sua existência.
O que é um milagre? Um milagre é um ato especial de Deus que interrompe o curso normal dos fatos. O ateu Antony Flew definiu de maneira muito boa: “O milagre é alguma coisa que jamais teria acontecido caso a natureza, como é, fosse deixada por si só”. [4] Desse modo, podemos dizer que as leis naturais descrevem o que acontece regularmente, por meio de causas naturais; os milagres, se é que ocorrem, descrevem o que acontece raramente, por meio de causas sobrenaturais.
Por meio dos milagres, Deus poderia dizer ao mundo qual livro ou qual pessoa fala por ele. Desse modo, se Deus quisesse mandar uma mensagem por meio de Moisés, Elias, Jesus, Paulo, Maomé ou qualquer outro, ele poderia realizar milagres por meio dessa pessoa.
Se Deus realmente trabalha dessa maneira, então um milagre confirma a mensagem, e o sinal confirma o sermão. Ou, colocando-se de outra maneira, um milagre é um ato de Deus para confirmar a palavra de Deus por meio de um mensageiro de Deus.
A pergunta é: Deus trabalha dessa maneira? O Rei do Universo usa tais sinais? Os milagres são até mesmo possíveis? Nosso mundo secular diz que não. Como estamos prestes a ver, o mundo está plenamente enganado.

A CAIXA ESTÁ ABERTA OU FECHADA?

Numa recente viagem à Rússia para falar com educadores daquele país, o professor de seminário Ronald Nash teve um grande desafio. Ele queria falar-lhes sobre Deus, mas sabia que não chegaria muito longe com eles a não ser que pudesse vencer a sua antiga oposição ao teísmo. Por mais de 70 anos, os russos foram instruídos numa visão de mundo que excluía Deus logo de início. A religião oficial do Estado era o ateísmo, e a visão de mundo ateísta afirma que existe apenas um mundo natural e material. De acordo com os ateus, os milagres são impossíveis porque não existe um mundo sobrenatural. Acreditar de outra maneira é acreditar em contos de fadas.
Nash começou mostrado-lhes duas pequenas caixas de papelão. Uma estava aberta, e a outra, fechada.
”Aqui está a diferença entre a sua visão de mundo e a minha’ — começou ele.
Apontando para a caixa fechada, disse: “Você acredita que o Universo físico está fechado. Crê que o Universo é tudo o que existe e que não há nada fora dele”, explicou. Voltando-se para a caixa aberta, continuou: “Eu também acredito na existência do Universo físico, mas também acredito que o Universo está aberto, que existe alguma coisa fora do Universo, que chamamos Deus”. Nash fez uma pausa e disse: “E que Deus criou a caixa!”.
Ele colocou a mão dentro da caixa aberta e disse:
— Assim como posso colocar a mão nesta caixa para manipular o seu conteúdo, Deus pode colocar a mão em nosso Universo e executar aquilo que chamamos de milagres. [5]
Por alguma razão, essa foi uma ilustração muito tocante para os russos. Lâmpadas começaram a aparecer na mente dos educadores em toda a sala. Aqueles educadores haviam assumido que sua visão de mundo naturalista era correta e não consideravam alternativa. Nash ajudou-os a pensar que talvez alternativa como o teísmo tivesse melhores evidências.
Como vimos nos capítulos 3 a 7, o teísmo realmente tem as melhores evidências. Sabemos, ainda que com dúvidas justificáveis, que existe um Deus teísta. Uma vez que Deus existe, o Universo representado pela caixa fechada é falso. A caixa está aberta e foi criada por Deus. Assim, é possível para Deus intervir no mundo natural por meio da realização de milagres. De fato, os milagres não são apenas possíveis; os milagres são reais, porque o maior milagre de todos — a criação do Universo do nada — já aconteceu. Assim, com relação à Bíblia, se Gênesis 1.1 é verdadeiro — “No princípio Deus criou os céus e a terra” -, então é fácil acreditar em qualquer outro milagre citado na Bíblia.
O Deus que criou todo o Universo do nada pode abrir o mar Vermelho?
Fazer descer fogo do céu? Manter um homem seguro dentro de um grande peixe por três dias?[6] Prever acontecimentos futuros com precisão? Transformar água em vinho? Curar doenças instantaneamente? Ressuscitar os mortos? Claro que sim. Todos esses fatos miraculosos são tarefa simples para um Ser infinitamente poderoso que criou o Universo em primeiro lugar.
Isso, porém, não significa que Deus executou todos esses milagres bíblicos.
Isso ainda será abordado. Significa simplesmente que ele poderia tê-lo feito que tais milagres são possíveis. À luz do fato de que vivemos em um Universo teísta, excluir os milagres de antemão (como muitos ateus fazem) é claramente ilegítimo. Como disse C. S. Lewis, “se aceitarmos Deus, devemos aceitar os milagres? No fundo, no fundo, você não tem certeza disso. Essa é a barganha’.[7]
Então por que tantas pessoas dizem hoje que os milagres não são possíveis ou que não se deve acreditar neles? Como é possível que os céticos não acreditem em milagres quando todo o Universo parece ser um maravilhoso milagre? Precisamos abordar essas questões antes de começarmos a investigar se Deus confirmou a verdade do judaísmo, do cristianismo ou do islamismo por meio de milagres.

OBJEÇÕES AOS MILAGRES

Desde o final do século XVII, duas objeções principais aos milagres têm sido levantadas, as quais precisam ser investigadas. A primeira delas vem de Benedito Spinoza, e a segunda, de David Hume. Começaremos com a objeção de Spinoza.
As leis naturais são imutáveis. O argumento de que as leis naturais são imutáveis foi popularizado primeiramente na década de 1670 por Benedito Spinoza, um judeu panteísta. O argumento de Spinoza contra os milagres é mais ou menos assim:
1.    Os milagres são violações das leis naturais.
2.    As leis naturais são imutáveis.
3.    É impossível violar leis imutáveis.
4.    Portanto, os milagres são impossíveis.
Se Spinoza está certo — se não há maneira de as leis naturais serem vencidas, interrompidas ou sofrerem interferência -, então os milagres são impossíveis.
O problema com essa objeção é que ela é uma petitio principii, uma falácia lógica. Se as leis naturais são definidas como imutáveis, então, naturalmente, os milagres são impossíveis. Mas esta é a questão! Quem disse que as leis naturais são imutáveis?
Seguindo de acordo com sua visão de mundo panteísta, Spinoza excluiu ilegitimamente o Deus teísta e, assim, os milagres, logo de início. Mas, se Deus existe, os milagres são possíveis. Como já vimos, o maior milagre de todos, a criação do Universo do nada, já aconteceu.
A própria criação em si demonstra que as leis naturais não são imutáveis. Uma coisa não surge naturalmente do nada. Mas aqui estamos todos nós.
Também sabemos que as leis naturais não são imutáveis porque elas são descrições do que acontece, e nãoprescrições do que deve acontecer. As leis naturais não provocam realmente alguma coisa; elas apenas descrevem o que acontece regularmente na natureza. Descrevem os efeitos das quatro forças naturais conhecidas: gravidade, magnetismo e as forças nucleares forte e fraca. Quando se introduz seres inteligentes no cenário, as forças naturais podem ser vencidas. Sabemos que essas forças podem ser vencidas porque fazemos isso todos os dias.
Por exemplo, quando um jogador de futebol pega uma bola que está caindo, ele está vencendo a força da gravidade. Fazemos o mesmo todas as vezes que andamos de avião ou voamos rumo ao espaço. Em tais casos, a gravidade não é modificada, mas simplesmente vencida. Se seres finitos como nós podem vencer forças naturais, então certamente o Ser infinito que criou essas forças pode fazer o mesmo.[8]
É difícil acreditar nos milagres. Alguns anos atrás, eu [Norm] fui convidado para falar na Escola de Teologia da Universidade de Harvard, uma das mais liberais escolas de teologia dos Estados Unidos. Meu assunto era “a prematura batalha de Harvard com o evangelicalismo”. Acredite se quiser, mas Harvard, tal qual a maioria das escolas de sua época, foi fundada por cristãos evangélicos com o objetivo de treinar os alunos no conhecimento de Jesus Cristo. A carta de Harvard, de 1646, afirma claramente seu propósito:
Que todo aluno seja plenamente instruído e corretamente levado a considerar bem qual seja o principal propósito de sua vida e de seus estudos: conhecer a Deus e Jesus Cristo, que é a vida eterna ao 17.3) e, portanto, lançar Cristo como o único fundamento de todo o conhecimento sadio e do aprendizado. Como o olhar para o Senhor só nos dá sabedoria, que todos se dediquem seriamente à oração em secreto para buscá-la nele (Pv 2.3).[9]
O que aconteceu para que Harvard se afastasse tanto de sua proposta original? Eles aceitaram um dos mais poderosos argumentos jamais formulados contra os milagres. Não era o argumento de Spinoza. Devido aos avanços da ciência moderna e de nossa melhor compreensão do mundo natural, poucos hoje realmente acreditam que as leis naturais são imuráveis. O argumento contra os milagres aceito hoje — e que foi aceito em Harvard — foi formulado pelo grande cético David Hume (1711-1776), cerca de um século depois de Spinoza.
Você se lembra de que falamos sobre Hume no capítulo 2. Foi ele quem disse que qualquer conversa sobre Deus é sem sentido porque tal conversa não envolve observação empírica ou verdades auto-evidentes. Vimos que sua afirmação derrota a si mesma.
Mas o argumento de Hume contra os milagres é um pouco mais sofisticado e não pode ser tão facilmente derrotado quanto seu argumento contra a conversa sobre Deus. Talvez seja por essa razão que ele é acreditado ainda hoje. De fato, o argumento de Hume contra os milagres é um dos pilares do assim chamado Iluminismo (é aquele no qual supostamente fomos dominados o suficiente para abandonar nossas crenças supersticiosas nos milagres e colocar nossa fé na razão e nas verdades empíricas encontradas pelo método científico). O argumento de Hume ajudou no avanço da visão de mundo naturalista que mais tarde se espalhou como metástase por causa da teoria da evolução de Darwin.
O que vemos a seguir é basicamente o material que apresentei à platéia de Harvard naquele dia. Comecei apresentando o argumento antimilagres de Hume e, depois, criticando-o. Aqui está o argumento de Hume na forma silogística:
1.    A, lei natural é, por definição, uma descrição de uma ocorrência regular.
1.    O milagre é, por definição, uma ocorrência rara.
2.    A evidência em favor do regular é sempre maior do que a evidência em favor do raro.
1.    Quem é sábio sempre baseia sua crença na evidência mais convincente.
2.    Portanto, um sábio não deveria acreditar em milagres.
Se essas quatro premissas forem verdadeiras, então a conclusão necessariamente o é — o sábio não deveria acreditar em milagres. Infelizmente para Hume e para todos aqueles que acreditaram nele com o passar dos anos, o argumento tem uma premissa falsa: a premissa 3 não é necessariamente verdadeira. A evidência em favor do regular nem sempre é maior do que em favor do raro.
Num primeiro olhar, isso pode não parecer ser o caso. Na era do replay automático, a premissa 3 parece fazer sentido. Um juiz de futebol, por exemplo, vê o jogo da perspectiva de um ângulo em plena velocidade, enquanto nós, espectadores, podemos ver da perspectiva de vários ângulos e em câmera lenta. Temos maiores evidências vendo um jogo repetidas vezes (o regular) do que o juiz que o vê apenas uma vez (o raro).
Mas o que pode ser verdadeiro para um jogo de futebol gravado não é necessariamente verdadeiro para todo acontecimento na vida. Para anular a premissa 3, precisamos mostrar apenas um contra-exemplo. Na verdade, temos vários, e eles vêm da própria visão de mundo naturalista de Hume.
1.    A origem do Universo aconteceu apenas uma única vez. Foi um fato raro e não repetível, embora praticamente todo naturalista acredite que a evidência do Big Bang prova que o Universo passou a existir com base em uma explosão.
2.    A origem da vida aconteceu apenas uma única vez. Também foi um fato raro e não repetível, embora todo naturalista acredite que a vida surgiu espontaneamente da não-vida em algum lugar sobre a Terra ou em algum outro lugar do Universo.
3.    A origem das novas formas de vida também aconteceu apenas uma única vez. Esses acontecimentos raros e não repetíveis são, todavia, dogmaticamente reconhecidos pela maioria dos naturalistas, que dizem que tudo aconteceu por meio de um processo macroevolucionário não observado (i.e., raro).
4.    De fato, toda a história do mundo é composta de acontecimentos raros e não repetíveis. O próprio nascimento de David Hume, por exemplo, aconteceu uma única vez, mas ele não teve qualquer dificuldade em acreditar que isso aconteceu!

Em cada um desses contra-exemplos, extraídos da própria visão de mundo naturalista de Hume, sua terceira premissa deve ser desconsiderada ou então considerada como falsa. Se Hume realmente acreditava nessa premissa, não deveria ter acreditado em seu próprio nascimento ou em sua própria visão de mundo naturalista!
Assim, descobrimos por alguns desses contra-exemplos que a terceira premissa de Hume e, desse modo, todo o seu argumento não podem ser verdadeiros. Mas quais são os problemas específicos com o modo de pensar naturalista?
Em primeiro lugar, ele confunde credibilidade com possibilidade. Mesmo que a premissa 3 fosse verdadeira, o argumento não excluiria a possibilidade de milagres, mas apenas questionaria sua credibilidade. Desse modo, mesmo que você tivesse testemunhado pessoalmente, digamos, Jesus Cristo ressuscitando dos mortos como ele havia predito — se você tivesse ido até a tumba, verificado que seu corpo estava morto e, depois, o visse em pé e caminhando para fora da tumba -, o argumento de Hume diz que você (uma pessoa “sábia’) não deveria acreditar nisso. Existe algo errado com um argumento que diz que você não deve acreditar naquilo que se verificou ser verdadeiro.
Em <segundo lugar, Hume confunde probabilidade com evidência. Ele não examina a evidência em favor de cada acontecimento raro; em vez disso, acrescenta a evidência em favor de todos os acontecimentos regulares e sugere que isso, de alguma maneira, faz todos os acontecimentos raros não serem dignos de crédito. Mas esse também é um raciocínio errado. Existem muitos fatos improváveis (raros) na vida nos quais acreditamos quando temos boas evidências que os comprovem. Fazer um gol de escanteio é um acontecimento raro, mas, quando testemunhamos um, não temos problema em acreditar nele. Certamente não dizemos isto ao jogador: “Uma vez que a evidência em favor do regular é sempre maior do que em favor do raro, não vou acreditar na sua jogada a não ser que você pegue a bola e faça a mesma coisa cinco vezes em seguida!”. Do mesmo modo, certamente não dizemos a um jogador da loteria que ganhou um prêmio cuja probabilidade era uma em 76 milhões que ele não vai receber seu dinheiro até que possa acertar da mesma maneira cinco vezes em seguida! Não, nesses casos, a ,evidência em favor do raro é maior do que em favor do regular. Testemunhas oculares sóbrias e sadias trazem maior evidência em favor de uma jogada rara independentemente de quantas vezes aquele jogador possa ter errado a jogada no passado. Do mesmo modo, um bilhete ganhador dá maior evidência de que certa pessoa ganhou na loteria independentemente de quão regularmente aquela pessoa deixou de ganhar no passado.[10]
Desse modo, a questão não é se um acontecimento é regular ou raro — a questão é se temos boas evidências em favor do acontecimento. Devemos examinar a evidência de cada fato em questão, não acrescentarevidências a todos acontecimentos anteriores.
Em terceiro lugar, Hume na verdade está argumentando em círculos. Em vez de avaliar a veracidade da evidência para cada milagre declarado, ele exclui a crença nos milagres de início porque acredita que existe uma experiência uniforme contra eles. Como de costume, C. S. Lewis tem um grande insight sobre isso:
Agora, naturalmente, devemos concordar com Hume em que, se existe “experiência absolutamente uniforme” contra os milagres, se, em outras palavras, eles nunca aconteceram, então por que eles nunca aconteceram? Infelizmente, sabemos que a experiência contra eles é uniforme somente se soubermos que todos os relatos sobre eles são falsos. E só podemos saber que todos os relatos são falsos se já soubermos que os milagres nunca aconteceram. De fato, estamos argumentando em círculos. [11]
Desse modo, Hume comete o mesmo erro dos darwinistas: ele esconde sua conclusão na premissa de seu argumento por meio de uma falsa pressuposição filosófica. Sua pressuposição falsa é que todas as experiências humanas têm sido contrárias aos milagres. Como ele pode saber isso? Não pode; ele pressupõe. Como vimos, os milagres são possíveis porque Deus existe. Portanto, seres humanos podem ter experimentado milagres verdadeiros. A única maneira de saber com certeza é investigar a evidência em favor de cada milagre declarado. Pressupor que todo e qualquer milagre declarado é falso, como faz Hume, é algo claramente ilegítimo.
Por último, embora Hume defina corretamente um milagre como um acontecimento raro, ele logo depois o pune por ser um fato raro! É como se Hume estivesse dizendo: “Se os milagres acontecessem com mais freqüência, então alunos que Ravi Zacharias trouxera da Faculdade Nyack. O professor nunca respondeu às minhas tentativas subseqüentes de contatá-lo.
Recebi uma resposta similar de Antony Flew, atualmente um dos mais destacados filósofos ateus. No final da década de 1980, pedi-lhe que comentasse meu livro Miracles and Modern Thought [Milagres e o pensamento moderno], [12] que criticava inúmeros argumentos contrários aos milagres, incluindo o seu próprio (que é bastante similar ao de Hume). Flew concordou em apresentar uma crítica por escrito na próxima edição de um grande jornal humanista. Contudo, naquele artigo, em vez de tentar refutar os argumentos que apresentei, Flew apresentou um elogio um pouco desajeitado ao sugerir que os ateus precisam criar melhores argumentos contra os milagres se desejassem responder aos teístas contemporâneos.
A relutância em lidar diretamente com as falhas do argumento de Hume nos diz que a descrença nos milagres é provavelmente mais uma questão da vontade do que da mente. É como se algumas pessoas se apegassem cegamente aos argumentos de David Hume simplesmente porque não querem admitir que Deus existe. Contudo, uma vez que sabemos que Deus existe, os milagres são possíveis. Qualquer argumento que possa ser levantado contra os milagres, incluindo o de David Hume, é destruído por esse simples fato. Se existe um Deus que pode agir, então é possível que existam atos de Deus (milagres).
Portanto, no final das contas, não é nos milagres que é difícil de acreditar; o difícil é acreditar no argumento de Hume! Podemos dizer que é um “milagre” o fato de tantas pessoas ainda acreditarem nele.

NEM TUDO O QUE RELUZ É DEUS — O QUE É E O QUE NÃO É MILAGRE?

Portanto, a caixa está aberta — os milagres podem acontecer. Mas como vamos reconhecer um milagre quando virmos um? Com o objetivo de responder a essa pergunta, é importante definir o que é um milagre e o que não é, de modo que saibamos o que estamos procurando.
Como mostrado na tabela 8.2, existem pelo menos seis diferentes tipos de fatos incomuns, dos quais apenas um deles é milagre.
EXISTEM PELO MENOS SEIS DIFERENTES CATEGORIAS DE
FATOS INCOMUNS:

Anomalias
Mágica
Psicossomática
Sinais satânicos
Providência
Milagres
Descrição
Caprichos da natureza
Habilidademanual
Mente sobre a matéria
Poder maligno
Fatos pré-definidos
Atos divinos
Poder
Físico
Humano
Mental
Psíquico
Divino
Sobrenatural
Características
Evento natural com um padrão
Não-natural e controladopelo homem
Exige fé; não funciona em determinadas doenças
Mal, falsidade, ocultismo, limitado
Naturalmente explicável; contexto espiritual
Nunca falha, imediato, duradouro, para a glória de Deus
Exemplo
Abelha(Bombus Apidae)
Coelho na cartola
Curas psicossomáticas
Influência demoníaca
Nevoeiro na Normandia
Ressuscitar os morros
Tabela 8.2
Vamos analisar brevemente cada um desses fatos incomuns. Começaremos com os milagres porque, se soubermos o que eles são, então poderemos compreender melhor por que outros fatos incomuns não são milagres.
Milagre. Para que um ato de Deus seja um sinal inequívoco de Deus, o ato precisa satisfazer certos critérios — critérios que vão distinguir os atos de Deus de qualquer outro fato incomum. Tal como o selo de um rei, o sinal de Deus deve ser singular, facilmente reconhecível e ser alguma coisa que somente Deus pode fazer. Em outras palavras, ele possui características que não podem ser explicadas pelas leis naturais, pelas forças da natureza ou por qualquer outra coisa no universo físico. Quais seriam esses critérios?
Como vimos nos argumentos cosmológico, teleológico e moral, somente Deus tem poder infinito (poder que está além do mundo natural), supremo projeto e propósito e pureza moral completa. Portanto, parece racional presumir que seus atos mostrariam ou conteriam elementos desses atributos. Desse modo, os critérios para os milagres verdadeiros são:
a)    Um início instantâneo de um ato poderoso, conforme comprovado pelo argumento cosmológico (o início do Universo);
b)   Projeto e propósito inteligentes, conforme comprovados pelo argumento teleológico (o projeto preciso do Universo com o propósito de permitir a existência de vida; o projeto específico e complexo da vida em si mesma);
c)    A promoção de comportamento bom ou certo, conforme comprovado pelo argumento moral (a lei moral que se impõe sobre nós).
O componente de poder dos milagres (a) significa que o sinal não poderia ser explicado naturalmente, pois, se uma causa natural fosse possível, então o sinal não poderia ser identificado definitivamente como um milagre. O milagre tem uma causa sobrenatural inequívoca — uma causa que transcende a natureza.
O componente do projeto (b) significa que qualquer sinal feito sem um propósito óbvio — confirmar a verdade ou um mensageiro da verdade, ou glorificar a Deus — provavelmente não é um sinal de Deus. Em outras palavras, não há possibilidade de Deus fazer milagres simplesmente com o propósito de entretenimento. Assim como a maioria dos reis da terra não usaram seu selo para uma coisa qualquer, o Rei do Universo não usaria seu selo por motivos frívolos. Além do mais, se ele usasse os milagres para simples entretenimento, então teríamos menos probabilidade de reconhecer seus propósitos quando estivesse tentando confirmar uma nova verdade ou um novo mensageiro. Desse modo, para não “fazer alarde desnecessariamente”, os milagres devem concentrar-se na promoção de uma declaração de verdade e devem ser relativamente raros para que possam ser eficientes.
O componente moral dos milagres (c) significa que qualquer sinal ligado a um erro ou imoralidade não pode ser um sinal vindo de Deus. O erro e a imoralidade são contrários à natureza de Deus porque ele é o padrão imutável de verdade e moralidade. Ele não pode confirmar o erro ou a imoralidade.
Com esses critérios — poder instantâneo, projeto inteligente e moralidade -, podemos identificar quais fatos incomuns são verdadeiros sinais vindos de Deus. Perceba que extraímos esses critérios daquilo que já aprendemos sobre Deus do mundo natural e aquilo que aprendemos sobre os limites da própria natureza. A Bíblia concorda com a nossa avaliação, chamando os fatos que satisfazem esses mesmos critérios de milagres.[13] Tanto a Bíblia quanto o Alcorão ensinam que os milagres têm sido usados para confirmar uma palavra vinda de Deus.[14]
Desse modo, um fato ligado a uma verdadeira declaração divina que tivesse essas características seria um milagre — um ato de Deus para confirmar uma palavra de Deus. Um milagre teria ocorrido, por exemplo, se Jesus — um homem que predisse que ressuscitaria dos mortos — realmente ressuscitou dos mortos. Tal fato mostraria poder instantâneo além da capacidade natural, um projeto e uma antevisão inteligentes e um propósito moral ao confirmar que Jesus vem de Deus (e nós, portanto, devemos ouvir aquilo que ele tem a dizer!). Não existe força natural ou outra fonte de poder que possa explicar tal fato.
Além disso, se a ressurreição realmente aconteceu, ela não ocorreu “de maneira inesperada”, mas dentro de um contexto. Em outras palavras, a ressurreição foi um acontecimento no contexto de um Universo teísta, no qual um homem afirmando ser de Deus e realizando milagres enquanto viveu predisse que sua ressurreição aconteceria. Tal contexto sugere que é um milagre, e não apenas um fato natural ainda por ser explicado. Em resumo, se a ressurreição realmente aconteceu (e nós vamos investigar esse aspecto mais adiante), ela tem as “impressões digitais” de Deus espalhadas sobre ela.
Providência. As pessoas religiosas, particularmente os cristãos, usam o termo “milagre” de maneira bastante livre. Com muita freqüência, identificam um acontecimento como um milagre quando seria mais correto descrevê-lo como providencial.
Fatos providenciais são aqueles provocados indiretamente por Deus, não diretamente. Ou seja, Deus usa as leis naturais para realizá-los. Uma oração respondida e acontecimentos improváveis mas benéficos podem ser exemplos disso. Eles podem ser bastante notáveis e motivar a fé, mas não são sobrenaturais. O nevoeiro sobre a Normandia, por exemplo, foi providencial porque ajudou a dissimular o ataque aliado contra o maligno regime nazista. Não foi um milagre — porque ele poderia ser explicado pelas leis naturais -, mas é possível que Deus estivesse por trás dele. Por outro lado, um milagre exigiria a ocorrência de alguma coisa como balas ricocheteando no peito dos jovens soldados à medida que invadiam a praia.
Sinais satânicos. Outra causa possível de um fato incomum poderiam ser outros seres espirituais. Uma vez que Deus existe, é possível que outros seres espirituais também existam. Mas, se Satanás e os demônios realmente existem, eles possuem poderes limitados. Por quê? Porque, como já mencionamos neste capítulo, é impossível que existam dois seres infinitos ao mesmo tempo. Uma vez que Deus é infinito, nenhum outro ser pode ser infinito.
Além disso, o dualismo puro — um poder infinito do mal versus um poder infinito do bem — é impossível. Não existe algo como o mal puro. O mal é uma privação de bem ou um parasita que habita no bem: ele não pode existir sozinho. O mal é como a ferrugem em um carro. Se você tirar toda a ferrugem, terá um carro melhor. Se você tirar todo o carro, não terá nada. Assim, Satanás não pode ser o equivalente maligno de Deus. É fato que Satanás tem bons atributos, como poder, livre-arbítrio e pensamento racional, mas ele os usa para propósitos malignos.
O resumo é que Deus não tem um igual. Ele é o Ser infinito que é supremo sobre toda a criação. Como resultado disso, os seres espirituais criados, se é que existem, são limitados por Deus e não podem realizar o tipo de ato sobrenatural que apenas Deus pode fazer.
Assim, apenas por meio da revelação natural — sem a revelação de qualquer livro religioso — sabemos que, se existem outros seres espirituais, eles são limitados em seu poder. Por acaso, é exatamente isso o que a Bíblia ensina.
De acordo com a Bíblia, somente Deus pode criar a vida e dar vida aos mortos (Gn 1.21; Dt 32.39). Os magos do faraó, que haviam imitado as duas primeiras pragas, não puderam imitar a terceira, que criou vida (na forma de piolhos). Os magos reconheceram que a terceira praga tinha o “dedo de Deus” (.h 8.19).
Satanás pode realizar truques melhor que o melhor dos mágicos — e há muitos exemplos disso na Bíblia[15] -, mas esses truques não satisfazem as exigências de um verdadeiro milagre. Como vimos, milagres verdadeiros fazem alguém pensar mais concentradamente em Deus, falam a verdade e promovem o comportamento moral. Sinais falsificados vindos de Satanás não fazem isso. Eles tendem a glorificar ostensivamente a pessoa que realiza o sinal e estão freqüentemente associados ao erro e ao comportamento imoral. Eles também não podem ser imediatos, instantâneos ou permanentes.
Em resumo, somente Deus realiza milagres verdadeiros; Satanás realiza milagres falsos. É exatamente sobre isso que a Bíblia fala em 2Tessalonicenses 2.9, em que Paulo escreve que “a vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o poder, com sinais e com maravilhas enganadoras”. Naturalmente, a não ser que haja discernimento, tais sinais podem ser enganadores e serem considerados milagres verdadeiros (Mt 24.24).
A tabela 8.3 resume as diferenças entre um milagre divino e um sinal satânico:[16]

Milagre divino
Sinal satânico
Ato realmente sobrenatural
Apenas um ato supranormal
Sob o controle do Criador
Sob o controle da criatura
Nunca associado ao ocultismo
Associado ao ocultismo
Ligado a Deus
Freqüentemente ligado a deuses panteístas ou politeístas
Associado à verdade
Associado ao erro
Associado ao bem
Associado ao mal
Envolve profecias verídicas
Envolve profecias mentirosas
Glorifica o Criador
Glorifica a criatura

No livro Anatomy of an Illness [Anato mia de uma doença], Norman Cousins descreve em detalhes de que maneira ele literalmente riu muito de si mesmo por causa do câncer. É fato que o estresse mental pode ter um impacto negativo na saúde física, enquanto ter uma atitude mental positiva, fé ou felicidade podem provocar um efeito positivo e terapêutico (cf. Pv 17.22).
Contudo, existem algumas condições patológicas — como ferimentos na espinha dorsal ou membros amputados — que não podem ser curados pela força da mente sobre a matéria, porque não são doenças psicossomáticas. Seria preciso acontecer um verdadeiro milagre para que estas lições fossem curadas.
O resumo é que as curas psicossomáticas são por sua natureza, psicológicas, e não sobrenaturais. Elas são provas de que a mente pode ter um impacto limitado mas significativo sobre o corpo. Não devem ser confundidas com milagres.
Mágica. Talvez o tipo mais familiar de fatos incomuns seja a mágica. A mágica está baseada na destreza das mãos ou na distração da mente. Um bom mágico pode fazer você pensar que ele cortou uma mulher ao meio, que tirou um coelho de uma cartola ou que fez um elefante desaparecer. Mas tudo é uma ilusão, um truque muito inteligente. Uma vez que se descobre como o truque é feito, você diz: “Puxa, por que não pensei nisso?”. Sendo um truque executado pelo controle humano, a mágica não é um milagre. Só Deus pode realizar um milagre.
Anomalias. Uma anomalia é um capricho não explicado da natureza. Houve um tempo, por exemplo, em que os cientistas não podiam explicar de que maneira uma abelha do tipo Bombus Apidae podia voar. Suas asas eram pequenas demais para o tamanho do seu corpo. Os cientistas consideraram o vôo da abelha uma anomalia até que descobriram um tipo de “pacote de força” que compensava as asas pequenas. Eles sabiam que não era um milagre por causa do padrão observável: todas as abelhas voavam. Assim, continuaram procurando uma explicação natural e, por fim, a encontraram.
O cético poderia perguntar: “Então por que a ressurreição de Jesus Cristo não poderia ser considerada uma anomalia?”. Porque ela foi predita. Havia um projeto inteligente por trás dela — as impressões digitais de Deus estavam em todo lugar. As anomalias não estão conectadas a afirmações verdadeiras e inteligentes e carecem de dimensões morais e teológicas. Se a ressurreição de Cristo realmente aconteceu, ela não foi uma anomalia.

POR QUE NÃO VEMOS MILAGRES BÍBLICOS NOS DIAS DE HOJE?

Atualmente muitas pessoas possuem uma visão provinciana da história e da experiência humana. “Se eu não vir certos fatos acontecendo hoje”, pensam elas, “é porque eles provavelmente nunca aconteceram”. É óbvia a implicação disso para os milagres, a saber: “Se não existem milagres públicos e da mesma qualidade dos milagres bíblicos acontecendo hoje (e que, se estivessem acontecendo, seriam mostrados no Jornal Nacional), então por que eu deveria acreditar que aconteceram no passado?”. É um questionamento bastante justo.
Contudo, existe um conceito errado muito comum por trás dessa questão. É a crença de que a Bíblia está cheia de milagres que aconteceram continuamente por toda a história bíblica. Isso é apenas parcialmente verdadeiro. É verdade que a Bíblia está cheia de milagres, acontecidos em cerca de 250 ocasiões diferentes.[17] Mas a maioria desses milagres aconteceu em janelas históricas muito pequenas, durante três períodos distintos: durante a vida de Moisés, Elias e Eliseu, de Jesus e dos apóstolos. Por quê? Porque aqueles foram momentos quando Deus estava confirmando uma nova verdade (revelação) e novos mensageiros que portavam aquela verdade. [18]
Se a maioria dos milagres está concentrado ali, o que está acontecendo em termos de milagres durante os outros períodos que a Bíblia abrange? Nada. De fato, existem grandes espaços do período bíblico (até mesmo centenas de anos) em que não há registro de milagres vindos de Deus. Por quê? Porque não havia nenhuma palavra nova vinda de Deus, e a maioria dos milagres confirmava alguma nova palavra vinda de Deus.
Sendo assim, por que não vemos milagres bíblicos hoje? Porque se a Bíblia é verdadeira e completa, Deus não está confirmando nenhuma nova revelação e, assim, não tem o propósito principal de executar milagres hoje. Não há uma nova palavra vinda de Deus que precise ser confirmada por Deus.
Agora, não nos interprete mal aqui. Nós não estamos dizendo que Deus não pode realizar milagres hoje ou que ele nunca possa fazê-la. Como soberano Criador e sustentador do Universo, ele pode realizar um milagre em qualquer momento que desejar. A questão é que simplesmente pode não ter uma razão para mostrar publicamente o seu poder como fazia durante os tempos bíblicos porque todas as verdades que ele queria revelar já foram reveladas e confirmadas. Tal como uma casa, a fundação só precisa ser construída uma única vez. Os milagres bíblicos foram atos especiais de Deus que lançaram o fundamento de sua revelação permanente para a humanidade.

RESUMO E CONCLUSÃO

1.    As características essenciais do Deus bíblico podem ser descobertas sem a Bíblia, por meio da revelação natural — conforme manifestada nos argumentos cosmológico, teleológico e moral. Esses argumentos, que são apoiados por evidências bastante fortes, mostram que este é um Universo teísta. Uma vez que este é um Universo teísta, apenas as religiões teístas — judaísmo, cristianismo e islamismo — passaram “na prova’ da verdade até este momento. Todos os não teísmos são construídos sobre um fundamento falso porque estão errados quanto à existência e à natureza de Deus.
2.    Uma vez que Deus existe, os milagres são possíveis. De fato, o maior milagre de todos — a criação do Universo do nada — já aconteceu, o que significa dizer que Gênesis 1.1 e todos os outros milagres na Bíblia são dignos de crédito. Argumentos contra os milagres fracassam porque estão baseados em pressuposições filosóficas falsas, em vez de basear-se na evidência da observação. O resultado é que eles fracassam na desaprovação dos milagres. Deus pode intervir no Universo que criou a despeito do que David Hume diz.
3.    Um milagre verdadeiro seria um ato que somente Deus poderia realizar, significando que ele incluiria características divinas como poder sobrenatural, projeto inteligente e a promoção do comportamento moral. Por meio dessas características, os milagres podem ser diferenciados de outros tipos de fatos incomuns como providência, sinais satânicos, curas psicossomáticas, mágica e anomalias.
4.    Devido à sua natureza moral, é de esperar que Deus comunique seus propósitos específicos a nós em mais detalhes (i.e., além da revelação natural, indo para a revelação especial). Deus poderia usar milagres como seu sinal para confirmar essa revelação especial feita a nós. Usado dessa maneira, um milagre é um ato de Deus para confirmar uma mensagem de Deus.
Nossa única pergunta neste momento é: “Deus usou milagres para confirmar o judaísmo, o cristianismo ou o islamismo?”. Essa é a pergunta que vamos começar a responder no capítulo seguinte.


[1] Esse Ser é ele, não algo; é uma pessoa, não uma coisa. Sabemos que esse Ser possui personalidade porque fez algo que apenas as pessoas podem fazer: ele fez uma escolha, a saber: optou por criar.
[2] V. Francis BECKWITH et ai. The Counterftit Cospel 01 Mormonism. Eugene, Ore.: Harvest, 1998, capo 2.
[3] The Screwtape Letters. Wesrwood, N.].: Barbour, 1961, p. 46 [a publicação pela Edições Loyola faz uso da designação aqui indicada: As cartas do coisa-ruim (N. do E.)].
[4] “Miracles”, in: The Encyclopedia of Philosophy, Paul Edwards, ed., vol. 5. New York: Macrnillan & Free Press, 1967, p. 346.
[5] Extraído da fita de áudio intitulada “Worldviews in Conflict”, da Conferência de Apologética de 2002 do Sourhem Evangelical Seminary. Fita AC0213. Disponível on-line em http://www. impactapologetics.com.
[6] É comum ouvirmos cristãos tentando explicar a história miraculosa de Jonas apelando para relatos supostamente verdadeiros de pescadores que sobreviveram dentro de baleias durante algum tempo. Mesmo se os eventos forem verdadeiros, eles são completamente irrelevantes. A história de Jonas tem o propósito de ser miraculosa, a saber: alguma coisa que somente Deus poderia fazer. Certamente um homem não sobreviveria dentro de um grande peixe durante três dias e seria vomitado numa determinada praia a não ser por um ato de Deus. Se isso parece incrível porque o mundo não funciona regularmente dessa maneira, então tudo foi feitopara ter essa aparência! Um milagre não é um milagre se puder ser explicado por meios naturais. O resumo é que o Deus que realizou o maior milagre de todos — a criação do Universo, grandes peixes e seres humanos — não teria tido nenhum problema em orquestrar o milagre de Jonas.
[7] Miracles. New York: Macmillan, 1947, p. 106 [no prelo pela Editora Vida].
[8] Diferentemente das leis morais, as leis naturais não estão baseadas na natureza de Deus e, sendo assim, são mutáveis. Embora Deus não possa violar leis morais — porque ele é o padrão imutável de moral idade -, pode mudar ou interromper leis naturais como quiser. De fato, Deus poderia ter criado a realidade física, incluindo as leis naturais, o ambiente natural e os seres vivos, com características completamente diferentes das que temos hoje.
[9] Disponível on-line em http://hcs.harvard.edu/~gsascf/shield.html. Acesso em 1° de junho de 2003.
[10] A maioria das pessoas acredita falsamente que, quanto mais vezes tenham jogado na loteria no passado, maiores são suas chances de ganhar desta vez. Não importa quantas vezes uma pessoa tenha jogado na loteria no passado, cada sorteio é um evento único que não é afetado pelas apostas anteriores. A probabilidade de acerto é uma em 76 milhões (ou quaisquer que sejam as probabilidades de um jogo em especial) a cada vez. Hume sugeriria que a repetida experiência passada de perder deveria fazer você não acreditar caso realmente ganhasse. Mas se um dia você ganhar, então realmente ganhou, a despeito do fato de que possa ter perdido milhares de vezes no passado. Do mesmo modo, um milagre pode acontecer independentemente de quantas vezes não tenha acontecido no passado.
[11] Miracles, p. 105.
[12] Revisado e publicado com o novo título Miracles and the Modern Mind. Grand Rapids, Mich.:
Baker, 1992.
[13] Você poderá encontrar uma discussão detalhada em Norman GEISLER, Signs and Wonders.
Wheaton, Ill.: Tyndale, 1988, capo 8. V. tb. Norman GEISLER, Enciclopédia de apologética. São Paulo:
Vida, 2002.
[14] Na Bíblia: Êx 4.1-5; Nm 16.5s; 1Rs 18.21,22; Mt 12.38,39; Lc 7.20-22; Jo 3.1,2; At 2.22; Hb 2.3,4; 2Co 12.12. No Alcorão: surata 3.184, 17.102; cf. surata 23.45.
[15] Você poderá encontrar uma discussão detalhada em GEISLER, Signs andWonders, caps. 7 e 8. V. a lista nas p. 107-8 (esgotado).
[16] Você poderá encontrar mais detalhes sobre este assunto lendo o artigo de onde este quadro foi extraído: “Milagres Falsos”, in: Norman GEISLER. Enciclopédia de apologética. São Paulo: Vida, 2002, p.574-8.
[17] Em algumas dessas ocasiões, foram realizados múltiplos milagres. Lê-se, por exemplo, que Jesus curou “muitos” diversas vezes, normalmente pessoas da cidade que estavam à volta (e.g., Mc 1.34; 3.10; 6.56; Lc 5.15; 6.18; 9.11). Os apóstolos realizaram vários milagres em uma única ocasião também (At 5.16; 8.7; 19.11,12).
[18] Teologicamente, os três grandes períodos de milagres tiveram certas coisas em comum. Moisés precisou de milagres para libertar Israel e sustentar um grande número de pessoas no deserto (Êx 4.8). Elias e Eliseu realizaram milagres para libertar Israel da idolatria (v. 1Rs 18). Jesus e os apóstolos fizeram milagres para confirmar o estabelecimento da nova aliança e sua oferta de libertação do pecado (Hb 2.3,4).

Extraído do livro “Não tenho fé suficiente para ser ateu” – Norman Geisler & Frank Turek